domingo, 17 de julho de 2016

O primeiro beijo e a Água.

Olá nobres amigos e iluminados leitores do Blog do Gilson Eletricista.

Este Blog foi criado para publicar os meus contos.

Porém não me considero um escritor e muito menos um poeta.

Volta e meia, publicarei contos, poemas, sonetos e versos de verdadeiros escritores famosos e desconhecidos, nacionais e internacionais.

Gilson Eletricista
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O primeiro beijo.
Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor.

Amor com o que vem junto: ciúme.

- Está bem , acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso.
  Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar ?

Ele foi simples:
- Sim, já beijei antes uma mulher.

- Quem era ela ? 
   Perguntou com dor.

Ele tentou contar toscamente, mas não sabia como dizer...

...

O ônibus da excursão subia lentamente a serra.

Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe.

Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir era tão bom.

A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida !

Como deixava a garganta seca.

E nem sombra de água.

O jeito era juntar saliva e foi o que fez.

Depois de reunida na boca ardente engulia a lentamente, outra vez e mais outra.

Era morna, porém, a saliva não tirava a sede.

Uma sede enorme maior que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda a pouca saliva que pacientemente juntava.

E se lhe fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de  deserto ?

Tentou por instantes mas logo sufocava.

O jeito mesmo era esperar.

Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.

Não sabia como e porque mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre arbustos, espreitando, farejando.

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava...o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada.

O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

De olhos fechados, entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água.

O primeiro gole fresco desceu, escorregando pelo peito até a barriga.

Em a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar.

agora podia abrir os olhos.

Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água.

Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra.

A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida...

Olhou a estátua nua.

Ele a havia beijado.

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourado pelo rosto em brasa viva.

Deu um passo para trás ou para a frente, nem sabia mais o que fazia.

Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva e isto nunca lhe tinha acontecido.

Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar.

A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto.

Perplexo, num equilíbrio frágil.

Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou uma fonte oculta nele a verdade.

Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: Ele...

Ele se tornara homem.

Fonte:
Autora do texto: Clarice Lispector



                        
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